quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Londres transforma abrigos subterrâneos da 2ª Guerra em "fazenda underground"

Bem abaixo de uma das mais movimentadas linhas do metrô de Londres, a Northern Line, que liga as regiões norte e sul da cidade, começa a ser desenvolvida a primeira plantação subterrânea da capital britânica: a Growing Underground, uma fazenda a 33 metros de profundidade. Mas o projeto, apresentado a potenciais investidores no início deste mês, chamou a atenção não só pela promessa de ser ecologicamente amigável, mas principalmente pela localização escolhida: os vegetais são cultivados em túneis, construídos em 1940 para servir como abrigos para a população durante a 2ª Guerra Mundial.
Marina Novaes/Opera Mundi

Plantação subterrânea usa iluminação de LED para cultivar ervas e temperos

“O lugar reunia todos os requisitos que nós procurávamos: tem a temperatura estabilizada em 16ºC durante o ano todo e espaço suficiente para os nossos planos: são 10.000m² de espaço para plantar”, explicou Richard Ballard, um dos fundadores da empresa Zero Carbon Food, responsável pela iniciativa.
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Abandonados desde o fim da guerra, os túneis são propriedade do Departamento de Transportes de Londres (TFL, Transport for London), e foram arrendados por 25 anos para o projeto - os valores do aluguel não foram divulgados. Localizados a menos de um quarteirão da estação de metrô Clapham North (zona sul), eles tinham capacidade para proteger 8 mil pessoas contra os bombardeios, mas chegaram a servir de abrigo antibombas para quase 12.300 pessoas em julho de 1944.
Marina Novaes/Opera Mundi

Os túneis usados para a plantação foram construídos a 33 metros de profundidade para proteger britânicos de bombas na 2ª Guerra

Desde o fim da guerra, porém, os túneis estavam abandonados e os planos de utilizá-los como parte da rede de transporte sobre trilhos nunca saíram do papel. Hoje, eles ficam a menos de 5 quilômetros do mercado de Covent Garden, região que reúne os atacadistas e restaurantes que a empresa pretende atrair como clientes.
Usando técnicas de plantação hidropônica, água da chuva (a proposta é usar 70% menos água que o empregado na agricultura tradicional), e um sistema de iluminação com luzes de LED, o Growing Underground terá como foco final os restaurantes de Londres.
“A proximidade com os consumidores é outra vantagem (dos túneis), porque podemos entregar os vegetais aos consumidores em poucas horas. Isso aumenta o tempo de vida deles e diminui drasticamente os gastos com transporte, o que implica em menos emissão de carbono”, explicou Steven Dring, sócio fundador da empresa.
Para chegar à plantação, é necessário descer 11 andares de escadas, mas um elevador deve ser instalado em breve pelo TFL.
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Os sócios Steven Dring (esq.) e Richard Ballard, proprietários da Zero Carbon Food

De olho nos restaurantes
Fram quase dois anos de pesquisa antes do lançamento da empresa, que pretende ver suas primeiras encomendas nas ruas até o início do verão, em agosto deste ano. No local, serão cultivados uma gama de ervas, temperos e vegetais, como brotos de ervilha, brócolis. alho, cebolinha, salsa, coentro, manjericão, flores comestíveis, legumes em miniatura, mostarda, rabanete, além de uma variedade de tomates e cogumelos.
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Espalhadas por três andares níveis, as plantações devem render 2,5kg de alimentos por metro quadrado. “É o suficiente para o nosso público alvo”, afirma Dring.
Outro fator que atraiu a atenção foi a dupla ter conquistado uma parceira com um dos chefes mais premiados do mundo, o britânico Michel Roux Jr, do restaurante francês Le Gavroche.
Marina Novaes/Opera Mundi

Os túneis da fazenda subterrânea ficam a menos de um quarteirão da estação de metrô Clapham North, e abaixo da linha Northern

“Nós queríamos ter um chefe por trás do projeto, para ter a garantia de que o que estamos plantando tem o sabor bom. O Michel foi o primeiro chefe que abordamos. Ele provou as amostras, gostou e abraçou o projeto”, disse Ballard. Autor de livros e protagonista de programas culinários na TV britânica, Roux Jr é hoje um dos diretores da empresa e se tornou o “garoto-propaganda” do grupo.
Atualmente em fase de testes, a produção em larga escala começará apenas em março deste ano. Para ver seus planos realizados, porém, a empresa ainda pretende conseguir 300 mil libras esterlinas (mais de R$ 1,1 milhão) em investimentos, por meio de “crowfunding” na internet. Em uma semana de campanha, o grupo atraiu 96 acionistas e levantou quase 50 mil libras (R$ 195 mil).

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